06 janeiro 2006

A ODISSÉIA DE UM ERMITÃO - CAP II

BETO E ZÉ DA BORRACHA
(por Vera Vilela)

Beto sentiu um tremor percorrer seu corpo quando aquela senhora boazuda olhou profundamente em seus olhos e disse, num tom choroso:
- Sinto muito meu senhor, a culpa é toda minha. Eu senti algo se enroscando em mim e achei que era o senhor pegando minha carteira. Que vergonha! O que posso fazer para ajudá-lo?
- Se fosse uns 35 anos atrás você poderia ter se enforcado com o cordão umbilical, agora é tarde demais. Quem sabe você poderia desfilar pelada no meio da torcida do Corinthians em dia de clássico?
- Estou falando sério. Como posso ajudá-lo? Meu marido está vindo me buscar, podemos levá-lo até sua casa. O que acha?
Ele coçou a cabeça, fechou um dos olhos, analisou a moça. Só agora pôde perceber a gata que estava ali a sua frente. “A mina era mesmo uma brasa”. Um corpo bem feito, através da claridade vinda da porta de entrada era possível analisar bem suas grossas e bem torneadas coxas; um quadril de mais de metro em contraste com a cinturinha de pilão; seios fartos e arredondados e, por cima apenas uma fina malha colada ao corpo; uma boca carnuda e olhos que mais pareciam duas jabuticabas; cabelos longos, negros e encaracolados. Pensou então que a companhia da moça não seria nada má neste dia chuvoso, mas lembrou-se então que só abandonou o sossego e segurança de seu rancho por estar com problemas.
- Sinto muito senhora mas, preciso achar um eletricista e um borracheiro com urgência.
- Pois então um dos problemas já está resolvido. Meu marido é borracheiro, já deve ter ouvido falar do Zé da Borracha?
Beto não fazia a mínima idéia de quem poderia ser mas, calou-se e apenas assentiu com a cabeça. Afinal precisa de um borracheiro.
- Muito prazer, meu nome é Rosicreide Lunarda mas, pode me chamar de Rosilu!
- Prazer, o meu é Beto e é assim mesmo que me chamam. Respondeu e sentiu a mão da moça, fina e delicada apertando a sua.
Neste momento entrou na Delegacia um senhor negro, enorme. Agarrou Rosilu e já foi levando como se os seus braços fossem guinchos. Enquanto ele dava um passo a moça ensaiava uma corridinha para acompanhá-lo.
- Vamos embora! Delegacia não é lugar pra mulher de respeito.
Enquanto ia sendo puxada Rosilu explicava o acontecido ao marido e ele ia diminuindo o passo. Voltou-se para Beto que, rezou uma Ave Maria, de olhos fechados, e ouviu o estrondo da voz do tal Zé.
- Poxa vida tio! Essa mulher é mesmo muito abusada. Onde já se viu colocar um senhor de respeito numa situação dessa? Veja mulher: o coitado está tremendo de frio. Vou levar o senhor até sua casa.
Quando Zé soube onde Beto morava, torceu o nariz olhou para o Beto, balançou a cabeça e disse:
- Hoje o senhor não vai para casa não. Caiu a ponte que liga o asfalto ao seu bairro, não passa nada por lá, nem cachorro nadando. Para que o senhor nos perdoe dormirá em nossa casa hoje. Amanhã de manhã se a ponte estiver arrumada eu o levo até lá e arrumo seu pneu.
- Acho que não tenho mesmo outra opção, vamos lá.
Chegando em casa Zé já deu um tapa nas costas do Beto quase desmontando o coitado e disse:
- Vou abrir uma cerveja para nós, Rosilu sabe fritar uns torresmos como ninguém, sequinhos e crocantes.
Pronto!
A palavra mágica.
T O R R E S M O.
Beto sentiu um fogo subindo dos dedos dos pés até lá no alto da cabeça ao imaginar aquela morena de avental amarrado na cintura e encostada no fogão fritando torresmos. Precisava arrumar um jeito de ver isso, esperaria a melhor oportunidade.

Não demorou muito e Zé espreguiçou-se na poltrona e avisou:
- Vou tomar um banho e volto logo. Pegou o jornal e foi para o banheiro.
Era agora ou nunca! Beto deu uma tossida e foi até a cozinha; já entrou pedindo um copo de água. Rosilu estava lá, do jeitinho que ele imaginou, uma deusa cozinheira. No armário um rádio tocava um samba e ela se chacoalhava toda enquanto mexia os torresmos. Um fio de baba escorria ao lado de sua boca aberta.
- Seu Beto, seu Beto! O que foi? Está sentindo algo? Está aí parado feito uma estátua. Venha! Sente-se aqui.
Ela pegou em suas mãos e o encaminhou até uma cadeira. Ao se sentar Beto passou os olhos pelo colo semidesnudo de Rosilu e babando novamente pensou:
- Hoje eu morro. – pensou.
- Sabe que meu marido é doido por torresmos?
- É! Eu também! E como!
- Que coincidência né?
- Sim. Magnífica coincidência.
Neste momento Zé volta do banho. Senta-se com Beto e logo Rosilu serve os torresmos com um arroz fresquinhos e feijão com um caldo bem grosso. Durante o almoço Beto conta tudo de ruim que lhe aconteceu desde cedo e comenta que pelo menos uma coisa boa se deu: ele conheceu aquele simpático casal.
Após o cafézinho Zé avisa que precisa voltar à borracharia e pede a Rosilu que mostre o quarto dos fundos da casa para que Beto descanse. O casal se despede com um beijo e um beliscão nas nádegas que Zé da em sua mulher.
- Venha Beto. Vou levar um lençol limpo e travesseiro para você descansar.
Beto seguiu aquelas nádegas dançantes até a lavanderia onde estava a porta de entrada. Rosilu entrou, ajeitou algumas tranqueiras que estavam sobre a cama e curvou-se para colocar o lençol. Ele seguia cada movimento da mulher e tremia de desejo pela visão do paraíso que às vezes ela deixava aparecer sob a saia. Ele aos poucos foi se chegando e tentando ajudá-la na arrumação. Com a excessiva proximidade de Beto Rosilu tropeçou e caiu de bruços sobre a cama, ele tentou segurá-la e perdeu também o equilíbrio caindo sobre ela.
- Nossa mãe! Que coisa enorme e dura é essa me cutucando aí?
- Desculpe. É minha lanterna, esqueci de tirar do bolso quando vim para a cidade.

Nenhum comentário: