26 março 2006


A Saga de Catende

Capitulo Dois – O começo e o fim do mundo


Para a menina criada na cidade, com obrigações, horários e pais cuidadosos, Catende foi a liberdade e o anonimato. Lá não era mais a Helena Augusta, tremendo só de ouvir o nome da alemã Madre Pelaguia ( pelava águias? O que não faria com as crianças? ) e que precisava tomar banho de camisola porque a visão do corpo nu era pecaminosa. Verbotten.

Em Catende as crianças iam juntas ao açude e não havia vigias de comportamento, exceto para as regras impostas por Dindinha aos moradores da casa. Uma delas era o ofício diário de alguma obrigação no serviço caseiro “ trabalho de criança é pouco, mas quem não aproveita é louco” dizia ela com, sua filosofia de interiorana criada na dureza.

De resto, era o se perder no anonimato, como mais um dos inúmeros netos, sobrinhos e afilhados que orbitavam o casarão. Ninguém vinha conferir, na enorme mesa de madeira das refeições, se comera o tanto para sobreviver, ou se engordara mais do que seria agradável ao olhar da mãe elegante. Era livre para bordejar pelos arredores da Usina e da cidade, sem peias ou cuidados.

Quando, finalmente, após restaurar a fortuna perdida, vieram busca-la, não conhecia mais aqueles dois estranhos bem-vestidos e carinhosos que tinham sido um dia seu pai e sua mãe.

Mas durante este tempo, aprendeu muito: sobre solidariedade sertaneja, dureza de caráter, trabalho constante, fartura e miséria, seca e chuvas abençoadas, a importância da água, ciúmes, fofocas e tudo que faz o caldeirão da vida no interior nordestino.

Tremeu com medo de Lampião que duas vezes avisou de sua passagem pela cidade – significando o terror, o saque, autoridades acovardadas e histórias apavorantes sobre estupros e maldades inconcebíveis. Por sorte, o cangaceiro desviou seu caminho para outras paragens e dele conheceu apenas as lendas.

Mas viu algo que jamais iria esquecer.

Semanalmente, Dindinha preparava alimentos para distribuir aos muitos pobres da região. Tudo era arrumado na mesa grande da sala e um dos moradores era designado para a tarefa de intermediário entre a caridade dela e os famintos. Eles faziam fila diante da porta, barrigudos, rodeados de filhos, alguns ainda dentro da barriga e, um por um, subiam a escada até a varanda, onde recebiam sua cota de laranjas, bananas, pão, etc.

Não era cargo disputado porque tarefa cansativa e tediosa ficar na porta da sala, distribuindo os alimentos. Mas havia dias em que se tornava ainda mais desagradável e até apavorante.

Estes novos desvalidos eram de uma classe assustadora e alimentá-los significava manter portas e janelas trancadas enquanto o encarregado da distribuição se limitava a colocar os alimentos fora do portão para que fossem apanhados.

Os temidos leprosos, ou morféticos, como eram ainda chamados em Catende.

No dia marcado, enquanto o povo se enclausurava, eles vinham pela estrada cobertos de andrajos, batendo a matraca para avisar da sua chegada, sabedores do nojo e horror que despertavam na população. Batiam um pau no outro – tlec ,tlec, tlec enquanto percorriam a cidade deserta recolhendo as doações.

Escondida, espiando pelas frestas, ela viu a imagem que lembrava os livros de catecismo do colégio. O grupo de infelizes doentes e miseráveis desfilando seu bloco infernal pela cidade sitiada pelo medo, ao som surdo dos seus tlecs, tlecs, tlecs anunciadores de que a vida não é bonita.

Mas Catende seria sempre isto – aprendizagem sobre o Bem e o Mal. Lição de contrastes.

13 março 2006

Saga do Catende - introdução

A Saga de Catende por Maria Helena Bandeira

Levados pelas mãos de Maria Helena Bandeira, chegaremos à Catende, no sertão pernambucano, juntos com Helena Augusta, uma menina de nove anos, criada em colégio de freiras no Rio de Janeiro.Lá conheceremos Dindinha, a terrível Don’Ana, mulher forte de coração generoso, que se tornará a verdadeira alma desta saga deliciosa, recheada de descobertas e experimentos que durante quase três anos assustaram e maravilharam nossa pequena heroína.

Ly Sabas

12 março 2006




A Saga de Catende

Capitulo Um - Novo mundo


Acostumada a ser mimada pelos pais na cidade grande do Rio de Janeiro, a menina de nove anos ainda incompletos, chegou assustada a Catende, no interior pernambucano, levada pelo avô, Seu Cordeiro, um homem alto e amável, de olhos verdes.

A casa do gerente da Usina era grande e ladeada por um jardim. Nela se abrigavam, fugidos das tempestades econômicas da vida, várias filhas com seus maridos e netos, além de tias solteironas e agregados. O lugar ideal para a garotinha cujo pai tivera que fugir dos credores, indo para São Paulo e emprestando os filhos numa diáspora cruel. Seu nome era murmurado em críticas veladas, mas não o suficiente para que não percebesse o veneno.

Pior foi conhecer a temível Don’Ana, que nunca aceitou ser chamada de avó. Para todos foi sempre Dindinha, mesmo quando nenhum batizado autorizasse este tratamento. Era uma mulher baixa mas forte, de olhos puxados e estreitos, muito azuis, com uma inteligência penetrante. As maçãs salientes, denunciando a ascendência holandesa, e a boca firme completavam o retrato desta mulher que governava a família e a casa com mão de ferro.

Dindinha não desperdiçava beijos nem afagos, era seca e cortante. Mas seu coração generoso permitiu que sempre houvesse mais um comendo e vivendo às expensas do marido. Brilhante, embora sem estudo, criou um método matemático para ganhar no jogo do bicho e não perdia nunca. Fazia também cruzamento de flores - cravos e cravinas - no jardim que era sua paixão. Usando salitre do Chile e métodos diversos, conseguia espécies diferentes, de pétalas lisas ou ásperas, de vários formatos .

Na falta de acomodações disponíveis, a menina foi designada para o quarto das rezas, onde ficava o oratório, lugar sempre presente nas casas nordestinas do interior. Ainda assustada, sem entender bem o que lhe acontecia, colocou numa cadeira a pequena mala com tudo que ainda tinha de seu no mundo e se preparou para descansar da desgastante jornada de trem pelo interior castigado e quente.

Uma cama de vento fora arrumada de improviso naquele lugar de oração e apesar dos seus desgostos e da estranheza do aposento, a infância venceu o medo e ela dormiu.

Acordou assustada com um apito estridente – era o anúncio da escuridão. Logo depois, a luz do gerador que iluminava a cidade foi cortada e um cheiro acre e desagradável veio da direção da Usina - nunca identificou porque, mas aquele cheiro desagradável foi o acompanhamento constante do apito e do corte da luz por todo tempo em que permaneceu na casa dos avós. Mais de dois anos.

E o pior veio depois. Apavorada com o súbito negrume, ergueu os olhos para o alto – a única coisa brilhante eram as pupilas de vidro dos enormes santos que olhavam todos para ela com malévola fixidez.

Passou o resto da noite acordada, vigiando seus companheiros de quarto. De manhã, mal os primeiro galos cantaram a alvorada, ouviu barulho no jardim. Levantou-se curiosa e caminhou em direção a ele. Ficou atônita com o que viu, mais apavorada do que nunca.

A menina criada no melhor colégio do Rio, de freiras alemãs e moralistas, viu a avó, a imponente Don’Ana, arrebanhar a saia rodada de sua bata comprida e, de pernas abertas, urinar, regando os canteiros de seu jardim predileto : chuaaaaaaa!!!!!!

Foi uma das primeiras e mais marcantes imagens de sua longa estadia no Paraíso e no Inferno particular em que se tornaria aquele casarão no distante sertão de Catende.

06 março 2006

NÍVER DA LEILOCA

É hoje...é pic.. é pic!
Ratimbum!!!!
Leilox Leilox Leilox!

Parabéns!


Um bolo especial...hihihihihihi

Tem um recadinho pra você lá no meu
bloquinho

Beijão
Verox

BOM DIA DO JOTA - 06/03/2006

Bom dia gente... com gente dentro!

Quando voltava, pela madrugada, o mesmo cenário de silêncio permanecia pela casa, como se não tivesse havido vida para aquelas pessoas.
Os problemas acumulavam-se à medida cresciam os papéis no cimo da secretária, e os olhos mortiços de constantes insónias não lhe permitiam o discernimento que a sua actividade exigia.
Já não conseguia falar. Só gritava. O seu pensamento recuava, frequentemente, aos anos da juventude, quando ainda estava a concluir a sua licenciatura numa universidade estrangeira, para onde os seus pais quiseram que ele fosse, prática comum nas famílias da época com mais poder económico. Lembrava-se desses anos e as lágrimas corriam precipitadas na sua face, tal a nostalgia que as memórias lhe causavam. Tinham sido os melhores anos da sua vida, sem a cegueira do dinheiro que há mais de vinte anos o destruíam como ser humano. Não suportava mais aquela situação e tomou de imediato uma decisão.
Tudo aconteceu num dia frio de Outono, em que as folhas das árvores cobriam com a sua cor castanha a estrada. E lá ao fundo, numa ravina, apareceu um corpo desfeito e um papel dobrado dentro do bolso de um casaco que ficara sobre uma rocha. Nele estava escrito: Tal como este papel a vida tem duas partes.

Tenham um excelente dia!
Façam o favor de ser felizes!
Beijos e abraços ao colectivo do
Jota

BOM DIA DO JOTA - 03/03/2006

Gosto de ser gostado.
Como gosto de gostar...
Na mesma intensidade, ritmo, cadência, ardência, prudência, frequência, querência, paciência.
Gosto de ser gostado, porque, como todos os seres da raça animal, gosto de carinho e estímulo.
De agrados e abraços. De olhares e gestos ímpares...
Gosto de ser gostado, porque gostar é sentimento nobre, frátrio, grato, sensato, legal, social, espiritual.
Íntimo ritual, de afagos na mente!...
Amor intelectual é comummente chamado, por falta de dialéctica real...
Mas soa bem aos ouvidos!...

Tenham um excelente dia!
Façam o favor de ser felizes!
Beijos e abraços ao colectivo do
Jota Vilela